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maio 2024
“O MNU hoje, tem 46 anos, a gente está há 46 anos desmistificando, mostrando que o 13 de maio foi, na verdade, a possibilidade de expansão do capital e que não incluiu os negros nessa possibilidade”, explica Regina Lúcia.
Dona Regina relaciona a denúncia da falsa abolição com as denúncias de racismo ambiental e de tragédias climáticas como a que ocorreu recentemente no estado do Rio Grande do Sul. Ela aponta a necessidade de ligar os pontos: “A gente está com um processo que é altamente racista e que não é só brasileiro, é um processo mundial de ataque à natureza, mas, no Brasil, a gente tem uma complexidade maior por conta da desigualdade racial existente nesse país”, afirma. A geógrafa ainda acrescenta: “A seca em Roraima, a enchente no Maranhão, as chuvas no Rio Grande do Sul são respostas da natureza à agressão que o capitalismo vem fazendo há muito tempo no planeta Terra. O que a gente tem é uma decisão política de uso indiscriminado das riquezas minerais, naturais, da água. A gente tem um uso avassalador pelo capital associado a uma política de conivência e omissão dos governos estaduais, municipais e do governo federal”, conclui. No segundo momento da aula, a coordenadora da área de combate ao racismo ambiental do Instituto de Referência Negra Peregum, Maíra Silva falou sobre a reinvenção do termo racismo ambiental ao longo dos séculos e como ele está presente em nossas vidas muito antes da formação desse conceito. “Eu costumo dizer que o Racismo Ambiental não se pronuncia aqui e agora, ele não se pronuncia no processo de colonização, mas ele está presente desde quando tivemos o processo de diáspora e a invasão do continente africano, porque racismo ambiental se trata de território, se trata de etnocídio, de ecnocídio e também de violações de direitos sobre os nossos corpos”, afirma a coordenadora. Maíra é mulher, negra, quilombola, bióloga, mestre e doutoranda no Programa de Geociências (IG/UNICAMP), na área de política e gestão de recursos naturais. Sua luta e sua pesquisa atravessam seu tempo e a história de seus ancestrais. Para ela, o direito à terra e ao território é um divisor de águas nos rumos da história da população negra no período pós-escravidão. “Entre o período de colonização e o império, nós tivemos um momento muito importante que foi a Lei de Terras, em 1850. Essa lei é o marco principal, que antecede ali a abolição, ela vai ser importante e vai dizer que, a partir dela, quem tem terra, tem que ter papel”, explica Maíra. A pesquisadora menciona a pressão feita pelos países do norte global que já haviam aderido ao processo abolicionista, e como as elites brasileiras se organizaram para não perder os benefícios econômicos que a exploração da vida de homens e mulheres, negros e negras, lhes acarretava. “A gente tem um divisor, diante daquele processo que a gente já vinha de escravidão, um divisor onde a população negra é martirizada do ponto que ela não vai ter direito ao território. E quando a gente chega em 1888, nós vamos pra onde, se a gente não tem terra? Aí começa toda essa cadência que a gente já conhece de violações e de desigualdades sociais que a gente vê até hoje”, conclui a pesquisadora quilombola. Antes da saída para a 28ª edição da tradicional Marcha Noturna Pela Democracia Racial, organizações do movimento negro construíram um posicionamento sobre a grave crise ambiental enfrentada pelo Rio Grande do Sul. A nota foi divulgada no dia 13 de maio de 2024, dia que marca os 136 anos da abolição da escravatura no país e foi assinada pela UNEafro Brasil, Movimento Negro Unificado (MNU), Marcha das Mulheres Negras de São Paulo, Instituto TEBAS, SOWETO Organização Negra, Vereador Paulo Reis, UNANCA – União da Capela dos Aflitos, CONEN – Coordenação de Entidades Negras, Escola de Samba “Fala Negão – Fala Mulher”, Mandato Quilombo Periférico, Mandato Bancada Feminista do PSOL e Casa Luiz Gama, e coloca o racismo ambiental como a causa central de catástrofes dessa natureza. Leia a nota completa Texto| Mayara Nunes